O QUE É A REALIDADE ?

 

   Um mestre Zen e seu discípulo estão numa bela praia, observando um veleiro que se aproximava. A vela da embarcação tremulava ao vento. O mestre então indagou ao discípulo:

_ O que se movimenta realmente, a vela ou o vento ?

   O discípulo se atrapalhou e não conseguiu responder.

_Nenhum dos dois ... o que se move é a mente. - disse o mestre.

   Essa história nos mostra que os mistérios da realidade são maiores do que podemos supôr. Os cientistas explicam o mundo pelo que percebem direta ou indiretamente dele. O problema é que, desde que nascemos, tomamos como realidade apenas o que nossos sentidos nos deixam perceber como tal. Esse acomodamento faz com que a maioria das pessoas refute qualquer efeito estranho à sua percepção usual, considerando-o inexistente, anormal ou explicando-o como lapso momentâneo dos sentidos.

   Nossa interação com o ambiente é determinada pelo cérebro, mas medida pelos sentidos. Efeitos eletromagnéticos (na visão), químicos (no olfato e paladar) e devidos à pressão (na audição e tato), se aglutinam e são detectados por nossos órgãos sensores. O sistema nervoso pega todas as informações, codifica em impulsos elétricos e envia ao cérebro.

   Os neurônios são as células nervosas. A rede neural se estende ao longo de todo o corpo humano, passando por células motoras e sensoriais. A junção entre os neurônios chama-se sinapse. A sinapse é um espaço vazio atravessado por impulsos elétricos, acompanhados de intensa reação química. Células sensoriais enviam a informação do ambiente, por meio de sinais elétricos, até o cérebro. O cérebro recebe, processa a informação e envia a resposta ao estímulo externo (num processo contínuo, denominado feed-back ) para as células motoras, que fazem o corpo reagir ao estímulo recebido. Toda a série estímulo-resposta ocorre em poucos milissegundos (lembra-se de quão rápido se contrai uma mão que leva um choque ?).

   Até agora, tudo bem. Mas os órgãos sensoriais nos transmitem mesmo TODA a realidade do ambiente ? Se a rede sensorial não reage à introdução de energia, o cérebro não recebe estímulo e não processa nada. Não sentimos o ultra-som nem a energia do campo magnético. Gases venenosos sem cor, cheiro ou sabor e com comprimento de luz fora do espectro visível não seriam sequer compreendidos como tal pelo cérebro, e nosso corpo não reagiria a tal gás. Nossos órgãos sensores foram "construídos" de forma muito grosseira e parece até que foram planejados não tanto para coletar informações do meio, e sim para escondê-las.

   Alguém pode agora argumentar: "Ei, e o ultra-som? e a radiação ultra-violeta? e os efeitos magnéticos e gravitacionais? Se não sentimos isso tudo, como então sabemos que existem?". Sim, a ciência descobriu a existência de diversos fenômenos sem precisar sentir diretamente , mas tais fenômenos puderam ser detectados indiretamente , por meio de processos e máquinas construídas para tal. Sabemos que o átomo existe, mas não vemos diretamente os átomos. Detectamos indiretamente efeitos que provam a existência de fenômenos que não sentimos diretamente. Isso, é claro, dentro da sensibilidade dos aparelhos que inventamos para detecção. Até esses últimos são ainda muito grosseiros e só abrem uma pequena brecha nos mistérios do universo.

   O mundo atual não representa a realidade total. Só percebemos três dimensões, mas o universo é descrito matematicamente em quatro, cinco, até mesmo em dezenas ou milhares de dimensões, dependendo do fenômeno em foco. Será que vivemos num mundo de matéria, ou vivemos na verdade um grande pensamento? Será que a vela do barco ou o vento se movem, ou na verdade é nossa mente que se move? Shakespeare tinha razão ao escrever que "há mais coisas entre o Céu e a Terra do que sonha nossa vã filosofia".

Lucio Marassi de Souza Almeida

back