POR QUE TEMOS QUE MORRER ?

 

    A morte traz calafrios a uns, insólita indiferença a outros, mas continua um enigma a todos. Presenciei um caso interessante de um garoto que não queria aceitar o dinheiro que sua mãe lhe dava.

- Filho... Por que não quer aceitar o dinheiro ?

-Ora, para que quero dinheiro, se vou morrer mesmo ?

    O garoto centra toda sua mente na morte. A morte existe e este é um fato irrefutável. Aceitá-la com tranqüilidade ou com medo depende da mente de cada um. Neste artigo pretendo apenas explicar porque devemos morrer.

    O mundo atual está sofrendo descargas de radiação maiores do que há alguns anos. A emissão dos gases nocivos à camada de ozônio aumentou e os raios ultra-violeta incidem com mais violência na Terra. Testes nucleares são feitos sem controle e em áreas que não suportarão os milhares de anos exigidos para a dispersão da radiação. Lixo nuclear é derramado continuamente em qualquer região. Com tudo isso é natural supôr que a radiação que suportamos hoje não é a que a humanidade suportava a algumas décadas. Se vazamentos radioativos ocorrerem (e a probabilidade disto é enorme) ou doenças como a AIDS continuarem sem controle, o que será da humanidade no futuro ? Resposta: no começo haverá muito sofrimento e mortes, mas á medida que as gerações passarem, o homem do futuro suportará doses de radiação que nos fulminaria hoje em dia, e doenças, como a AIDS hoje, serão para ele como uma gripe é para nós atualmente. É esse o sentido da morte: aperfeiçoamento, adaptação.

    Tenho uma tese de que, se pudéssemos pegar um homem do século XVI e o trouxéssemos para o ano de 1996, ele seria fulminado vivo. O homem seria transferido para um mundo onde não teria anticorpos ou resistência para suportar qualquer doença ou radiação da atualidade; morreria em segundos. Olhem para os retratos do início do século. As pessoas não aparentam mais fragilidade do que as de hoje em dia ? Será só impressão ?

    Morremos, enfim, porque o mundo não é estático. Nossos descendentes se adaptarão à vida do futuro como nós estamos nos adaptando a esta, e este é o sentido da morte. Sentindo medo ou compreendendo o papel da renovação de gerações, o que não devemos fazer nunca é deixar que o egoísmo nos domine neste setor tão delicado. O culto da imortalidade que nos assola atualmente deve acabar.

    Nos jornais apareceu uma notícia sobre uma corrente filosófica que se propaga pela Internet. Cultuam a ciência e a fé nos cientistas. Centram o foco na criogenia e na biônica. Eles crêem que logo os dados do cérebro serão passados para um corpo artificial. Quando isso for feito, a imortalidade será conquistada. Enquanto isso não é realidade, a opção de se congelar para renascer no futuro é a melhor, para quem não quer morrer de uma doença hoje incurável. É incrível a que ponto chega o egoísmo e o egocentrismo das pessoas.

    Vamos supor que a partir de hoje ninguém mais morresse. Daqui a vinte anos (no máximo) a fome e o caos dominarão o planeta. A condição de vida decairá exponencialmente e o inferno chegará.

    O mundo não suportará o advento de pessoas imortais. Quando a tecnologia para isso for alcançada, sei que será difícil não sucumbir à tentação. Afinal, quem quer morrer ? O mais fervoroso religioso não tem certeza absoluta se terá alguém do outro lado para lhe estender a mão. Sou favorável a que se estude para fazer a vida do homem durar duas ou três vezes mais e com mais saúde, mas procurar um caminho para a imortalidade é anti-ético,além de ser um suicídio coletivo.

    Os que defendem a imortalidade argumentam que se Einstein ou Newton vivessem mais cem ou duzentos anos o mundo seria melhor e mais avançado. É um argumento forte, mas quem está no ramo da ciência sabe que não é verdadeiro. Deixo o próprio Max Planck (prêmio nobel de física de 1918) expor o que de fato ocorre na ciência:

 

"Uma nova verdade científica não triunfa por convencer os seus adversários e fazê-los ver a luz mas, outrossim, porque os seus adversários acabam morrendo de velhos e uma outra geração cresce familiarizada com esta verdade." (Max Planck).

 

    Não só na ciência, mas em qualquer ramo, o modo de ver o mundo muda com o passar das gerações. Um homem que molda seus princípios no começo da vida morrerá defendendo-os. Cabe às novas gerações decidirem manterem os bons princípios e descartarem os maus , e é assim que o mundo se renova. Defender a imortalidade é defender a estagnação, física e mental.

    Acredito na ciência e nos avanços tecnológicos, sei que ocorrerão e é por isso que este artigo se torna necessário. Hoje é filosofia, amanhã será uma reação.

Lucio Marassi de Souza Almeida

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